Generation gap ou conhece a tua história
Tenho falado por aqui o quanto sinto que o mercado de casamento andou uma década para trás, neste intervalo que foi (é…?) a pandemia.
O quanto nos desligámos novamente uns dos outros, o quanto a velocidade de cruzeiro a que íamos, se quisermos falar de visão, inovação, dinâmica, qualidade ou crescimento, estagnou, o quanto tudo aparenta ter passado para um “está bom assim” morno e sem verve...
O momento que vivemos parece não pedir mais, a nossa disponibilidade mental ou conexão com as coisas, idem, resta decidir se queremos ficar assim ou temos ganas para mais — mas isto é uma discussão para uma próxima ocasião.
O assunto de hoje é a memória e a sua importância. E o que é a memória, neste caso? Bom, é a história, tudo o que foi feito antes por outros, para que hoje possamos nós fazer o que fazemos.
Uma das características naturais do mercado de casamento é a sua renovação contínua: todos os anos chegam gente nova, todos anos sai gente que não tem interesse em continuar.
É claro que há muito de apetecível para entrar: uma promessa de trabalho criativo todos os dias, retorno financeiro simples, pouco investimento para começar, know-how pouco específico que assenta que nem uma luva na nossa tão conhecida (e até valorizada) capacidade de improviso, e toda a graça que é o contexto de um dia feliz. São razões mais do que suficientes para a renovação da sua massa crítica.
Agora quero juntar a questão da memória histórica, o que aconteceu, quem foram os seus actores e qual foi o seu papel no desenrolar da narrativa.
O mercado que conhecemos hoje - que quem com os seus vinte e tal, trinta anos acaba de descobrir e nele quer trabalhar — é assim apetecível porque toda uma geração antes decidiu mudar paradigmas e provocou a onda que hoje todos surfam sem esforço.
Ainda que seja um mercado jovem ou pouco maduro, já podemos falar de gerações distintas. É verdade que a geração cool de hoje existe e cresce porque a geração anterior desbravou o caminho, criou o imaginário, formou o cliente. E essa geração existe porque confrontou a anterior, os seus hábitos e a estagnação, questionou as formas de fazer e a visão. E essa existe porque viu o potencial e quis criar um negócio numa área tida como de pouca importância no universo das profissões.
Não poderia haver Muza Weddings sem Brancoprata, ou Pixel sem Videoart, ou destination weddings sem Algarve Wedding Planners, ou I Love Brides Casar em Portugal sem We are The Destination, ou LP Consulting Networking sem showcases, Epitô sem Pureza de Mello Breyner ou Simplesmente Branco sem O Nosso Casamento. E não podia haver nada disto sem a Exponoivos, o Vasco Aragão, o Martins Alves ou outros tantos.
Somos o resultado de uma reacção contra, porque queremos outra coisa, ou a favor, porque alguém eliminou obstáculos e dúvidas sobre a ideia que queremos propôr. Encontramos o nosso espaço no mercado porque alguém, antes de nós, fez coisas.
Não quero fazer nenhuma cobrança sobre o esforço e trabalho que coloquei (eu e outros) num mercado que era aborrecido e parado no tempo e o transformou em algo diferente e melhor, para as gerações mais novas. Não o fiz para elas, fi-lo para mim e para os meus parceiros, não temos por isso contas por acertar. Mas conhecer a história do mercado é muito importante, tal como é entender as suas diferenças, saber que elas existem e quais as forças motrizes das suas várias evoluções. Quem são as pessoas e quais foram as ideias, os passos, as acções. Qual é história, o que era e o que é, o que foi feito e o que ficou por fazer, seja para fazer melhor ou para fazer diferente, de forma crítica e transparente, sustentada em conhecimento. Tudo isto é importante e alicerça o sector.
Fazer tábua rasa ao passado, de forma voluntária, por não sabermos mais ou por acharmos que sabemos tudo, é sempre o pior ponto de partida para iniciarmos um diálogo ou marcarmos uma posição.
O mérito colectivo e real tem muito mais impacto e duração.