Da faísca ao bocejo: o caminho do sucesso
“If you do it right, a few years after a surprising invention, the new thing has become normal. People yawn. That yawn is the greatest compliment an inventor can receive.”
Dez anos depois, o bocejo. E que maravilha que isso é!
Em 2010 o Simplesmente Branco ficou online.
A premissa era simples, a concretização levou o seu tempo. O modelo de inspiração foi o clássico e impecável Style me Pretty, o farol do bom gosto e de tudo o que de casamentos se tratasse — sempre com imagens incríveis, um imaginário que nem se avistava por cá e uma elegância fatal!
Estávamos nos primeiros anos do novo milénio e o mundo digital era todo um outro assunto, sem redes sociais, sem Pinterest, sem smartphones, apps ou sites prontos a usar.
Namorei-o (e aos seus primos americanos) vários anos, explorando o conceito, suspirando e pensando, a cada visita, “e se…?”
Passei outro tanto em busca de parceiros de projecto com o know-how necessário (do qual não sabia absolutamente nada), e, depois de os encontrar, mais seis meses de treinos com o inocente e gracioso Happy Hour — ideias frescas para o seu casamento, enquanto tudo se construía. Devagar.
A16 de Maio de 2010, o Simplesmente Branco ficou online — a tal surprising invention, que espantou muitos, acolheu tantos e acertou passo com o que se passava no mundo que víamos lá fora, cheios de espanto.
No início desta década o mercado de casamento em Portugal encontrava-se parado numa fase longa e sem graça: os mais velhos estavam acomodados, sem desafios de maior, os mais novos não se interessavam pelo assunto. Os noivos estavam sozinhos. Faltava entusiasmo, frescura, inspiração, sobrava desencanto.
Profissionalmente, eu própria queria uma casa digital para mostrar os meus convites de casamento: uma casa à minha escala, alinhada com a minha visão. Uma casa para mim e para os meus pares. Uma casa para os meus noivos. Um sítio fresco, inspirado, gentil, generoso. Um sítio nosso, à nossa medida, como os que namorava, todos os dias, nos Estados Unidos.
Como não existia, construí-o. Acabou-se o “e se…?”.
O Simplesmente Branco foi a faísca e a gasolina de uma nova geração de profissionais, de uma nova tribo de noivos, de um novo mercado de casamento.
De “foleiro”, passou a “giro”, de estagnado passou a vibrante e, hoje, é com orgulho que alguém diz “sou fotógrafo de casamentos” ou “sou wedding planner” e muitos querem fazer parte deste sector. Ligámos quem procurava, sem saber que existia, a quem oferecia, sem as mesmas certezas. Pusémos os parceiros à conversa uns com os outros (nem se conheciam…!) e validámos dúvidas e sonhos dos noivos, reforçando ideias, garantindo com assertividade e um sorriso, que era o caminho certo.
Passámos dez anos neste diálogo. Dez anos de conteúdos diários sem interrupções: 6500 posts, 50 mil imagens, centenas de real weddings, 300 fornecedores, 5 revistas digitais, 990 páginas de editoriais, 11 showcases, 2 milhões de leitores, 5 milhões de pageviews, 940 histórias de amor.
Uma casa. Um ponto de vista.
E durante este tempo, mais duas revistas, duas conferências, mais outro site. Várias remodelações, vários logotipos, várias paletas de cores. E sempre o mesmo fio condutor: qualidade, exigência, fazer bem feito. Inspirar, apontar o caminho.
No mercado nacional, há um antes e um depois e isso é inegável — e saboroso, claro, muito saboroso. E é precisamente essa a razão — a sensação de trabalho feito — pela qual me despeço do Simplesmente Branco.
Saio leve, sem qualquer nostalgia, com um sorriso pronto, fiz o que quis e como quis, sempre, e deixo um legado claro de dever cumprido. Cheguei ao bocejo, essa normalidade que evolui da ideia genial, depois de abraçada por todos. Sendo uma imensa conquista e um elogio, é o suficiente para me empurrar para novas aventuras e desafios. O destino interessa-me muito menos do que a viagem para lá chegar.
A venda do Simplesmente Branco à Zankyou, um player fortíssimo que reconhece o seu valor e o ampliará nos próximos anos é a conclusão perfeita deste percurso.
O caminho para o sucesso é longo. Demora, tem muitos solavancos e recuos, exige sangue, suor, lágrimas e paciência. Ética, moral, espinha dorsal. Muita resiliência, algumas certezas e, sobretudo, uma visão.
“Sempre chegamos aonde nos esperam”, diz, certeiro, Saramago.
Destes anos, somo experiências como observadora, como trendsetter, como gestora de marca, como criativa, como directora de arte, como parceira, como adviser, como fazedora. É todo este lastro e conhecimento que carrego comigo. Junto-lhe a minha constante vontade de fazer bem feito e o prazer de pensar sobre muitas coisas, e mostrar outras tantas. Faço reflexões sobre assuntos que nos interessam a todos e outros mais laterais, porque é preciso desacelerar e expandir os horizontes. Olhar para o que está a nossa frente e encontrar pontos de ligação.
E se…?
Citação de Jeff Bezos, publicada no The Guardian.
Artigo publicado originalmente em susanaestevespinto.com, em Fevereiro de 2021