A cor do dinheiro

Já repararam o quanto não gostamos de falar sobre dinheiro?

De forma abstracta, as conversas ainda acontecem, mas de forma factual, numerária, não.
É uma pena, porque esta falta de frontalidade e transparência certamente reflecte a nossa falta de confiança no nosso próprio preço (estará certo, será baixo, será alto?), o receio da percepção do outro (que ilacções irá tirar do meu negócio e do meu estilo de vida?), e até a desconfiança sobre quem pergunta (porque estará a fazer perguntas, será um cliente mesmo?).

Quando pergunto um preço, é porque tenho interesse em saber mais, sou um potencial cliente. Posso estar numa fase ainda muito exploratória sobre o que quero ou preciso, posso desconhecer totalmente o produto ou serviço e com isso, desconhecer também o seu valor.
Posso estar numa segunda fase, com ideias ou necessidades mais bem definidas, mas ainda a avaliar a minha disponibilidade de investimento ou leque de fornecedores, entre ofertas semelhantes.
E posso estar na recta final da minha jornada de consumidor, com as minhas contas feitas, ideias arrumadas e necessidades esclarecidas, pronta a comprar.

E quando chega o momento e pergunto, quantas vezes a resposta é: depende, só com orçamento, mas era para quê, sempre com um travão e a porta apenas entreaberta.

Fazer um orçamento dá trabalho e consome tempo, tantas vezes perdido, quando o cliente não compra. Mas isto é uma visão estreita de um ponto crítico do nosso trabalho.

Fazer orçamentos/dar preços é uma parte inerente do negócio, e uma tarefa tão importante quanto qualquer outra.
Se nos consome muito tempo (porque temos muitas solicitações, porque todo o trabalho que executamos é feito à medida), é preciso criar uma fórmula que torne o processo mais ligeiro e optimizado, mais ágil.
É responsabilidade nossa, não do cliente, que não tem como ser conhecedor desta informação, tantas vezes opaca, e precisa dela para tomar uma decisão informada.
Se o cliente não adjudica, está do nosso lado dissecar e perceber o porquê, fazer os ajustes necessários e conquistar o próximo. Podemos estar a atrair o cliente errado ou a criar expectativas que não estão alinhadas com o nosso real valor porque estamos a comunicar mal.

A ausência de uma mensagem simples e clara — e também calorosa -, mata qualquer relação que queiramos construir. E há muitas formas simples de deixar espaço para que coisas aconteçam, mesmo quando falamos de dinheiro.

A questão do orçamento (ou a dificuldade em ter a informação sobre o valor) é um imenso entrave ao desenrolar de uma ideia, proposta ou adjudicação.
Que tal apontar um intervalo, realista, de valores, acompanhado de um exemplo, se for o caso? É uma forma de ninguém perder tempo, numa fase inicial: informa quem não sabe, não compromete quem executa, até porque não há uma proposta formalizada que une e regula a colaboração entre as duas partes. E se há valores fixos para serviços/produtos fixos, porque não tê-los à vista, comunicá-los com entusiasmo, sem hesitação?

E se o cliente não aceita a proposta, porque não perguntar, com algum detalhe, porquê? Tentar perceber como poderia ser servido, sem comprometermos o que fazemos? E, quem sabe, concluindo que não seremos um bom par, recomendar alguém que conhecemos bem, um dos nossos colegas, que estará alinhado com as necessidades e preço deste cliente?

Servir, sempre. Posso não ser cliente hoje, neste momento, mas tenho a memória de uma experiência óptima, de uma resposta à minha questão, de uma porta aberta para a minha necessidade. Essa memória tão positiva faz de mim um embaixador daquela marca, mesmo sem ter consumido. E quando decidir ser cliente, serei um cliente mais qualitativo, mais informado, menos demorado no meu processo de escolha.

E, garantidamente, ninguém se põe a fazer contas a quanto ganhamos!
E, mesmo que o faça, qual é a utilidade ou influência dessa ideia sobre a nossa actividade? Nenhuma, mais vale abraçarmos o capital, termos preços justos e bem calculados, e abrirmos as portas com um entusiasmado e genuíno “sejam muito bem-vindos, como vos posso ajudar?”

via Pinterest.

--

--

designer by training, content curator by calling, wedding expert by experience

Get the Medium app

A button that says 'Download on the App Store', and if clicked it will lead you to the iOS App store
A button that says 'Get it on, Google Play', and if clicked it will lead you to the Google Play store
Susana Esteves Pinto

designer by training, content curator by calling, wedding expert by experience